terça-feira, agosto 31, 2010

Desejo - resposta a Blake

"Aqueles que reprimem o desejo assim o fazem porque o seu desejo é fraco o suficiente para ser reprimido." William Blake

O Sr. Blake, permita-me discordar desta afirmação.

Quanto a mim, não existem desejos fracos. O desejo é desejo, algo que nos assoma de mansinho e mal nos apercebemos de como nos tolhe a razão. Assume o controlo dos nossos pensamentos e as nossas acções acabam por ser fortemente condicionadas pela satisfação do mesmo. Passa-se a sonhar acordado com as diversas maneiras pelos quais o podemos satisfazer ocorrendo-nos de tudo desde o mais banal, ao mais perverso (estes afastamos logo da ideia com repugnância, dizendo a nós próprios “seria incapaz de fazer uma coisa destas!” e eu pergunto “Seria?”)

Este desejo exerce tal influência sobre nós que mal damos conta que nossas decisões, humores, disposições, escolhas, etc. estão todas sob a sua poderosa influência. O desejo, mexe com todo o nosso ser, altera-nos até o corpo, que estremece e nauseia por desejar tanto.

Por vezes é a mesma sensação de guiar um carro com dois volantes, a razão manda-nos desviar, o desejo, seguir em frente; ou como tentar acelerar e travar ao mesmo tempo, e lá vamos aos solavancos até ficarmos enjoados.

Por isso discordo desta afirmação Sr. Blake!

Permita-me que lhe diga que “aqueles que conseguem reprimir o seu desejo” são pessoas muito fortes, com uma consciência treinada o suficiente para saber que existe um tempo para tudo, e mais ainda, que não podemos ter tudo o que desejamos, pura e simplesmente existem desejos que não podem nem devem ser satisfeitos, porque não nos trariam proveito algum.

A título de exemplo, se um diabético não controla o seu desejo por açúcar, a mera satisfação de seu desejo será apenas temporária, a longo prazo satisfazê-lo pode ser fatal! Valerá à pena?

Talvez então seja bom refrearmos ou reprimirmos alguns dos nossos desejos, principalmente aqueles que a longo prazo, não nos vão trazer benefício nenhum, mas sim apenas prejudicar-nos.

A tarefa é hercúlea, porque nossos desejos são sempre fortes, e reprimi-los pode ser uma actividade diária, temporária ou esporádica, mas o seu refreio não será menos difícil em nenhuma das situações.

Exige força de carácter!





















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