quinta-feira, dezembro 29, 2011

Fragmentos#2

(…)

Olhou-a uma última vez, os longos cabelos escuros e ondulados emolduravam uns olhos negros e húmidos, onde sempre desejara afogar-se, o nariz pontilhado aqui e ali de pequenas sardas, que lhe confeririam sempre aquele ar de menina atrevida, os lábios rosados e entreabertos, que pareciam estar sempre a espera de um beijo, o queixo cuja a curva levava a um pescoço longo e pálido que acabava num colo liso macio com um sinal no decote perto do seio direito… olhou-a esta última vez, lendo-lhe nos olhos que seria a última… sabia-o… agora tinha certeza.

Voltando-se, começa a caminhar lentamente sabendo que cada passo afastava-o dela [talvez, a sua melhor oportunidade de ser feliz], esse pensamento traz-lhe um gosto amargo à boca, o gosto do beijo de despedida que nunca deram... a angústia desse pensamento o faz parar, volta-se para a ver mais uma vez, quiçá dar o beijo da despedida… mas ela também já lhe dera as costas  e caminhava no sentido oposto. Ficou a admirar aquele vulto a afastar-se sempre à espera de a ver também voltar-se desejando também o beijo de despedida que não deram… viu-a desaparecer quando dobrou a esquina da rua, sem nunca ter-se voltado na sua direcção. Sentiu um peso no peito, deita as mãos aos bolsos, puxa um cigarro do maço acendendo-o para ajudar a engolir a emoção que lhe assoma à garganta, volta-se rapidamente e reinicia a caminhada, embrenhando-se na multidão solitária e alheia ao fim do que poderia ter sido uma maravilhosa história de amor, funde-se na massa cinzenta dos vultos apressados e desaparece.

(…)

por Morgaine



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