quinta-feira, setembro 23, 2010

Soltam-se as palavras que ecoam na mente do Mundo…

Soltam-se as palavras que ecoam na mente do Mundo…

Libertai o verbo dos seus grilhões sociais
Da incomensurável censura
Do véu negro da castradora moral
Do peso da domesticada vergonha

Soltam-se as palavras que ecoam na mente do Mundo…
esvoacem como andorinhas duma primavera tardia
ondulem como constantes vagas na improfícua praia
mergulhem no negro rio putrefacto da Humanidade

Soltam-se as palavras que ecoam na mente do Mundo…
caiam do céu em ácida precipitação
corroam cabelos, carnes, ossos
beijem a Natureza com lábios ávidos e mortíferos
calcorreiem a Terra com dentes aguçados e feros

Soltam-se as palavras que ecoam na mente do Mundo…
sorvam do Mar a existência
suguem da Terra a vida.
Do Homem, rascunho feito, extinga-se a semelhança
à Criança, traguem, sem pudor, sua inocência
às Cãs, cocem, com garras ferinas, a escara escura e pútrida
à Cria, esventrem-na, sem pejo, pelo seu sagrado manto

Soltam-se as palavras que ecoam na mente do Mundo…
ascenda a profícua intolerância
pregue-se o amoral racismo
cultive-se a fugaz opulência
prolifere a fútil aparência

Soltam-se as palavras que ecoam na mente do Mundo…
reverenciem o profano deus
ofídia de bifurcada língua
futilidade e mentira segrega
sede e fome semeia

Soltam-se as palavras que ecoam na mente do Mundo…
gotejem imorais pensamentos
fogueiem amorais ideais
aspirem o futuro infértil e certo

Soltam-se as palavras que ecoam na mente do Mundo…
eclipse-se o vão conhecimento
troça da imberbe sabedoria
saqueie-se da História as inglórias de sanguinárias vitórias

Soltam-se as palavras que ecoam na mente do Mundo…
em ondas abrasivas se propaguem
consumam o frescor da Fonte Vital
apodreçam as entranhas da obstinada Humanidade!

Morgaine Wordsworth 16/09/2010

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